
Liderar envolve influenciar as pessoas para que trabalhem num objetivo comum. Trabalhar, ou liderar, pessoas é uma tarefa árdua, em que mais depressa se detectam os fracassos do que os sucessos, já que no primeiro caso toda a empresa se poderá ressentir, no segundo o mérito é geralmente assumido de forma solitária.
No ambiente de um restaurante, posso dizer sem dúvidas que o setor mais complicado de administrar é a cozinha. Alguns chefs renomados mostram em seus programas de televisão a complexibilidade de domar esse ambiente. E os exemplos não são poucos: o Jamie Oliver – famoso chef inglês - criou um programa de capacitação para jovens adultos problemáticos com finalidade de ensinar a arte de cozinhar e tirá-los da vida problemática que levavam. Bom, não preciso dizer quem teve muitos problemas nesta história. Já outro que frequentemente perde a cabeça é o chef Ramsey Gordon que tenta ressuscitar restaurantes a beira da falência - na maior parte das vezes, por culpa dos proprietários pela falta de gestão e descaso total dos funcionários – fazendo uma legítima virada de mesa. Na maioria de seus programas o chef Ramsey constata que há um despreparo e porque não dizer: um relaxo com a preparação dos pratos que servem os comensais. Muitos “profissionais”, não têm o bom senso de entenderem que estão trabalhando com saúde pública. Isso mesmo, pessoas podem morrer se ingerirem produtos contaminados ou vencidos. Não sei se vocês já assistiram, mas o chef Ramsey quer matar o cara, quando ele vê essas atrocidades. Não é pra menos!
Na gestão, não basta apenas ser uma pessoa boa é necessário que tenha nascido para vencer, vitória essa que está relacionada com a busca constante de desafios, com a coragem de mobilizar-se, de assumir seu papel diante de seus pares, de seus colaboradores e de seus supervisores. Liderar envolve influenciar as pessoas para que trabalhem num objetivo comum e desenvolver talentos. Esse último é o ponto mais complicado: como liderar talento? Para se ter sucesso, é preciso alimentar o talento individual. Acredito que cada ser humano tem um talento, só precisa ser descoberto e trabalhado. O problema é que as pessoas parecem não se importar com o crescimento profissional. É comum ouvir uma pessoa dizer: eu não fui contratado para pensar. Ora, desde a Grande Depressão - criada na quebra da bolsa de valores de Nova Iorque, em 1929 - as teorias da administração criaram novas perspectivas, visto que buscavam conhecer as atividades e sentimentos dos trabalhadores e estudar a formação de grupos. Começou-se então a pensar na participação dos funcionários na tomada de decisões e na disponibilização das informações acerca da empresa a qual eles trabalhavam. A realidade é que alguns trabalhadores entenderam isso e cresceram com as empresas, outros continuaram culpando o governo pelos problemas que enfrentavam na vida e mantiveram a cultura enraizada da Teoria Clássica, e assim trabalham de forma muito mecânica. Ai então, como cultivar o talento?
O problema é ainda maior pelo fato de que o clima na cozinha é muito pesado e não ajuda neste pensamento. Isto é, a temperatura dos ambientes é altíssima – imagine o que é trabalhar na frente de um forno com temperatura média de 450 graus centígrados com a pressão de ter que dar conta dos pedidos de uma demanda aproximada de mil pessoas que visitará o restaurante naquele dia - a cobrança do salão é implacável. A sincronia do trabalho, alinhada à sinergia da brigada (equipe) tem que estar em sintonia como em uma orquestra sinfônica onde o maestro é fundamental para controlar o ritmo sem perder a harmonia. Neste caso, a função do chef, vai além de comandar o ambiente. Ele deve conhecer cada um de seus comandados para saber como torná-lo um elemento produtivo, pensante e desenvolvedor de seu próprio talento. Para alcançar isso, não administro os talentos somente com a mente e o coração – uma equação de razão e emoção – uso o sentimento da alma. Para isso, deixo manifestar os diversos afetos da minha alma ao reger o som desta orquestra maravilhosa que é a cozinha.